LA VITA È DOLCE CON DOLCI GESTI

img_9751Apesar de, nessa viagem, termos ficado em muitos hotéis sonho de consumo de 10 entre 10 viajantes, posso garantir que, de todos, esse foi o que mais nos marcou, que mais mencionamos e mais descrevemos aos amigos como foi nossa estadia por lá. Confesso, na seguência dos posts deste roteiro à Itália, estava doida pra chegar aqui. Hoje vou falar sobre um momento a dois, que nos mostra como LA VITA È DOLCE. Momento vivido num lugar meio incomum, tendo como estrela principal uma terceira pessoa CON DOLCI GESTI. Viajar tem isso, né? Como disse no post anterior, o dia rende!

 

LA VITA È DOLCE

CON DOLCI GESTI

A vida é doce com doces gestos

Dilu Bartolomeo Villela

 

 

E o que mais rende, em qualquer viagem, são as nossas sensações. Ahhh, são como poesia e como diz o poeta, elas precisam fugir do lugar-comum e devem ir muito além do óbvio (num tem poeta não, mas diz ele que está sempre a favor dessa última opção… Rsrrss…).

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Bem, deixando o lado poético de ser, e caindo na real, as experiências que um hotel podem proporcionar são fundamentais para influenciar nessas sensações. Sim, escolher onde se hospedar é apostar no que vamos sentir no destino e lá no futuro, quando lembrarmos daquilo que vivemos.

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E tem outra, uma viagem não quer dizer apenas aproveitar a cidade, a região, sua gastronomia, seus vinhos, pontos turísticos. Às vezes, melhor que tudo isso, é nos ver inseridos na cultura do local, vivenciando momentos inusitados.

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Saindo da Toscana, entramos na Liguria
Saindo da Toscana, entramos na Liguria

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Eu sei! Vocês estão curiosos para saber como viemos parar aqui, mas fica difícil descrever de uma maneira simplista, tipo: olhei na internet e aquela foto deslumbrante da colina de Gragnola com o Castello dell’Aquila, me seduziu.

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Foto tirada da internet
Foto tirada da internet

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Saímos de Lucca, na Toscana, almoçamos em Forte dei Marmi veja aqui, continuamos em direção a Portofino, Liguria, e quebrando poucos quilômetros pra direita, incluímos o Castelo dell’Aquila no nosso roteiro.

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Falei com o Luiz e ele foi contra: Hospedar num castelo medieval no meio do nada sem saber extamente o que vamos encontrar pode ser uma furada.

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Esse argumento não foi o bastante para me convencer e insisti, fiz a reserva. Um dia antes de chegarmos lá, algo me intuiu e disse ao Luiz pra arrumarmos uma bolsa e não decermos no castelo com nossas malas pesadas e completamente fora do contexto. Ele não quis e eu fiz a minha. Ao subirmos aquela minúscula estrada, comecei a pensar que a intuição é meu forte…

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… pararmos num portão onde é necessário ligar pra alguém abri-lo…

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Chegamos e cadê alguém para carregar malas? Inexiste! Luiz subiu a escadaria da fortaleza carregando sua imensa mala…

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Pensei: vou entrar pra história, vai ser nestas pedras que hei de espalhar meu pranto! É hoje que meu marido vai me… Engano o meu!

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Algo de sui generis aconteceu que o fez cair de encantos por Gabriella, aquela francesa de 74 anos, que chegou tão ofegante quanto ele para apresentar nossos aposentos.

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E nos mostrar  a vista… de tirar mais ainda o restinho de fôlego que ainda nos sobrava: Luiz pelo cansaço e eu… pela culpa por tê-lo trazido pra este lugar tão diferente de tudo que já havíamos visto e vivido.

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Então, Gabriella nos pergunta se iríamos jantar na cidade… Ãh??? Prefiro morrer de fome aqui. Nem por 3 estrelas Michelin eu enfrentaria a noite naquela estradinha mão única, cheia de pirambeira e sinuosa. Foi aí que tudo mudou. Foi aí que ela nos ofereceu um jantar: “Posso fazer uma refeição simples!” E o Luiz: “O problema que sou vegetariano, não como nenhum tipo de carne”. E eu, mais que depressa: “Ok, queremos sim, pode trazer!” E num é que às 8 horas, estávamos os três (sim, nossa castelã fez parte da ceia) sentados em frente a uma cômoda (sim, cômoda, pois sobre a mesa do quarto repousava uma enorme mala… kkkkkk…). E ali, em frente àquela cômoda, ela serviu um dos mais marcantes banquetes de nossas vidas.

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Ok! Cá estamos nós, hospedados num castelo! Mas aquela frase totalmente cliché insiste em martelar o “poeta”: uma viagem dentro da viagem! Como seu maçante significado ganha ares de relevante sentido dentro do conjunto!

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Entãããooo, a certa altura da “viagem dentro da viagem”, frente à deliciosa refeição, impossível não trocarmos receitas.

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Quando trocamos receitas, listamos ingredientes, elaboramos a melhor maneira de combiná-los, transformamos tudo em algo delicioso e numa situação surpreendente como aquela, não conseguimos escapar de memórias que trazem vida, intimidade, história – passado.

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O puro Parmeggiano italiano veio ainda embalado, simplesmente simples veio para abrir nosso palato (como se necessário fosse!!).

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Até o pão era melhor que todos os pães estrelados.

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E o vinho? Ah o vinho! Dos mais baratos, com certeza fornecido por algum pequeno comerciante da região, mas de sabor sublime (ou sublime é o momento que o fêz assim?).

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Imagino que a sopa de grãos tenha sido feita num fogão à lenha e muito bem temperada com centelhas de amor. Se eu pudesse voltar no tempo, comeria de novo uma colher da sopa que nunca mais sairá da minha memória gastronômica!

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Uma massa cuidadosamente feita pro vegetariano! Nada parecida com aquelas comidas sempre iguais dos restaurantes bã bã bã – um trivial de “nuvens, ares e espumas” temperadas com blá blá blá, num sem cheiro de “carvão”… tudo tão em moda, mas não chegam aos pés dessa comidinha modesta e deliciosa.

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De sobremesa, uma torta de maça – imagino que foi feita com maças selvagens (a história não saiu de algum livro?). Ah, as receitas também nos fazem crer na delícia de alimentar os elos, lembrar das nossas origens, manter tradições, e essa ingênua sobremesa leva “ingredientes” tão extraordinários em sua receita que mostram a importância da tradução do LA VITA È DOLCE.

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Um banquete de vida. Ali, comendo, bebendo, conversando, nos maravilhamos e brindamos a história daquela senhora que, ao procurar viver um conto de fadas uma casa pra morar na Itália, decide comprar um castelo do Séc. IX. O Castello dell’Aquila.

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Foto tirada da internet
Foto tirada da internet

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E enquanto, sob seus olhos, tudo aquilo era milagrosamente restaurado, seu marido só tinha olhos para a secretária. E assim, acabou ela sozinha com aquele “conto de fadas” pra ser vivido e, depois, transformado em hotel.

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Gabriella deixou o marido, mas nos últimos tempos, sem saber, dormia ao lado de um cavalheiro traído e morto por uma flecha. Sim, durante as escavações, veio à tona o esqueleto intacto de um cavaleiro e ela se viu envolvida num crime ocorrido por volta de 1340 – brutal assassinato a sangue frio. Depois de sete séculos de sono, o distinto foi levado para ser analisado, já que a descoberta se tornou objeto de estudo por parte do mundo científico.

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Foto tirada da internet
Foto tirada da internet

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Sozinha, Gabriella lutou para fazer a estradinha (a essa altura, aquela que me meteu tanto medo, ganhou ares de auto estrada) que liga o castelo a pequena e medieval Gragnola…

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… sozinha, reconstruiu o que foi destruído pelas guerras e pelo terremoto de 1920…

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… sozinha, Gabriella também construiu a capela…

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… o pequeno museu…

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… o pátio de recepções (hoje, tudo aberto à visitação).

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Depois de tantas, “a viagem na viagem” chega ao fim.

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Sinto na boca, no estômago, no coração e por todo lado, o sabor, o aroma e principalmente, o desejo, de mais uma vez, sentar a beira daquela cômoda e colocar, mais uma vez, meus ouvidos ao seu inteiro dispor, Gabriella.

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Prometo não contar essas lembranças para qualquer um, apenas para os muito especiais, tais a donna do castelo. Ou quem sabe guardo e resevo escondido a magia do inesquecível, desafiando o tempo? Bobagem, só eu mesma não esqueço o que só eu vi e vivi.

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E o que vai comigo pela estrada afora, não serão só as palavras, cada uma delas compondo frases, se desenvolvendo e formando histórias, mas também o pão, a sopa, o vinho, a massa, e por fim, as maças em forma de poesia.

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Acho que deu pra vocês, pessoas especiais a quem prometi contar essa história, captaram meu olhar para com a mulher que fincou raízes profundas na região, mostrando como LA VITA È DOLCE! A mesma mulher que nos recebeu e, CON DOLCI GESTI, acabou fincando raízes também na nossa memória.

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Tudo pareceu ter saído de um livro famoso, daqueles que li e chorei ao acabar! Daqueles que, se eu pudesse dar um título, seria LA VITA È DOLCE CON DOLCI GESTI!

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Veja o post anterior deste roteiro pela Itália

LA CUCINA E SUOI SAPORI, IL MARE E SUOI COLORI

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Veja o próximo post deste roteiro pela Itália

CINQUE TERRE, cinco maravilhas!

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aaaa

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BBB

22 comentários em “LA VITA È DOLCE CON DOLCI GESTI”

  1. Nossa Fada!!!
    Fiquei emocionada! Esse é de longe o seu post mais bonito! Que texto lindo, os olhos escorregam pelas páginas e a gente reza para não acabar!!! Lindo!!! Obrigada! Beijos

    1. Ahhh que bom Polinha, minha amiga! Isso me deixa feliz demais! Mas não é o post que é bacana, é pq vc captou a sensação, estou certa disso! Obrigada!!!!!!!! Bjsss!

    1. É verdade Marcia! Muitas coisas vão passando e vamos deixando pra trás. Essa é um tipo de experiência pra ficar guardada, a lembrança da Gabriella e das suas histórias ficarão pra sempre! Bjs e obrigada minha linda

    1. kkkkkkkk… Vc vê tia Dorinha? Tem jeito não, e vc não imagina a escadaria! kkkkkkk Não tirei foto pq estava até com dó! Nem graça, achei! Agora sim, depois que passa, fica engraçado!

  2. Virginia Campolina

    Dili, Dilu, Dilu!!!!!! Que isso fia? Inspirada por anjos, deuses? Que coisa linda, que maneira sublime de se expressar, que gentileza nas palavras, qta sensibilidade nas sensações, nas emoções! Linda e comovente sua história da dolce vita! Com seus gestos e palavras doces, vc enternece meu coração! Obrigada!

    1. Jura Vir? Nossa! Fiquei aqui muito, muito admirada com suas palavras. Elas sim, generosas, e nunca vi nada mais lindo que “gentileza nas palavras”. O pior que me provocou uma certa grande inveja: porque nunca pensei isso? Gentileza nas palavras é forte demais, amei! Vou ter de pedir licença para copiar e colar num futuro próximo! rsrsss..

    1. Monica, é engraçado você ouvir elogios. Minha amiga ai de cima, a Vir, passou um video muito bacana falando sobre a dificuldade que a maioria das pessoas tem em receber elogios. Eu me incluo nessa grande parte da população boba e sem graça. Mas depois do video, estou me policiando e vou agradecer à altura:
      Monica, e eu, completamente grata!

    1. Tá vendo Valeria? A inveja é uma coisa normal e todo mundo deve mesmo sentir. Acho uma delicia qdo vejo alguma coisa muito bacana e que eu queria pra mim, por exemplo: já roubei o “gentilezas nas palavras” de propriedade da Virginia, aliás, ex. Sim já tomei posse, como se fosse meu. kkkkkk

  3. Muito bom parar e encontrar uma materia tão gostosa de ler e depois ficar imaginando a cena, coisa de livro mesmo. Obrigada sua fofa. Bjks

    1. Uka querida, também fico imaginando como você consegue fazer mesas tão lindas, ali também há vida, história, encantamento e temos vontade de participar dela. Você é uma artista, parabéns!

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