JE SUIS PARIS

Primeiro dia… Ah, o primeiro dia… Até parece também a primeira vez. É assim essa cidade, tão surpreendente que, essa que é aaaa… não sei qual vez, parece ser a primeira!

Bem, mas vamos falar da chegada, do primeiro dia na minha nova casinha (é minha sim, pelo menos por dois meses – tempo que no primeiro dia parece nunca ter fim).

Como sabemos desde o primeiro sutiã, o primeiro dia a gente nunca esquece e, além da felicidade plena (essa coisa inexplicável sentida dentro do peito), a gente fica por conta dos ajustes.

Depois de, meio que “lá das nuvens” observando um mundo que não é seu, é hora de arrumar esse mundo que, de repente, passa a ser seu. Correr na floreira da esquina, mesmo não sabendo fazer arranjos, mas casa sem flor não dá… Correr também na mercearia bem aqui em frente e se esbaldar entre prateleiras que parecem caídas do céu; voltar pra casa numa ansiedade juvenil e ver que a despensa não é tão grande como você gostaria; ver que é preciso mudar alguns móveis de posição; achar carinhosamente um lugarzinho pra cada coisa trazida do mundo que fazia parte da sua vida até ontem (e já parece tão distante); guardar as roupas no armário, sentindo como se elas fossem novinhas (essa sensação eu não entendi) e, ao tirar as roupas da mala… ai Jesus, olha a surpresa da filha linda: fotos, dela e dos meus amores (só de sacanagem, ela coloca foto dela pequenininha… Deve gostar de me ver assim… 😥 afff…) Claro, eles ganham o lugar de honra da sala, é chegar em casa e dar de cara com três dos meus quatro maiores amores (um tá aqui, sempre no meu pertinho, graças a Deus).

Mas voltando para o assunto da casa: e a escova de dente, onde colocar? Uai, num copinho qualquer que você rouba da sua nova cozinha… Falando em cozinha… Onde colocar o pano de prato, se não tem um suporte? E a toalha de mão (toalha que não existe e você tem de se virar com toalha de rosto)? Que maneira estranha de arrumar tem a dona desse lar… Meu Deus, que paneleiro mais bagunçado! E os pratos, por que tão distantes? Encontro novas “moradias” pra eles, bem à mão. Sim, acaba que troco tudo de lugar e são mudanças que sei, apropriadas PRA MIM. Isso me faz “viajar na maionese” e ficar imaginando como seria a pessoa que estava feliz com a antiga disposição, a que saiu pra eu chegar. Ah! A diversidade! Cada ser é um ser diferente – diferente de mim, de você, de todo mundo, inclusive dessa pessoa que partiu levando suas tantas lembranças. Humm… Será que ela se encantou, tanto quanto eu, com aquele queijo? Sim, acho que sim!

Sinto aquele queijo na minha boca e imediatamente vem a pergunta que não quer calar: Como assim? Vc está na França, fia… que papo é este de diferenças? Eu mesma me respondo: deixa de ser bocó Dilu, somos todos iguais e cada um de nós, nos 50 tons de vermelho, branco e azul, hasteia a mesma bandeira: JE SUIS PARIS com Liberdade, Igualdade e Fraternidade.

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Curiosidade:

SAINT-NECTAIRE: Queijo do campo, muitas vezes feito por mulheres, o Saint-Nectaire foi chamado até o século XVII “queijo de centeio”, porque era refinado na palha deste cereal. É a untuosidade de sua massa e seu delicado sabor de noisette que o tornou famoso. Introduzido ao tribunal de Luís XIV, o Saint-Nectaire era o favorito do Rei Sol. Sua reputação é feita quando Legrand d’Aussy escreveu em 1768, na história de sua viagem a Auvergne:

“Se você quiser se presentear, será sempre um Saint-Nectaire que apresentaremos a você.”

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